sexta-feira, 17 de abril de 2015

Crime do Padre Amaro: obra original ou imitação de Zola?


    Indubitavelmente, a Literatura como um todo está atravessada por influências. Outrora, século XVI, especificamente, existia com muita força obras imitadas. Muito se afirma, por exemplo, que Camões se inspirou e até imitou completamente, em alguns momentos, Petrarca e Policarpo Quaresma ser o abrasileiramento do personagem cervantino, Dom Quixote. Seguindo esta esteira, temos em foco o Crime do Padre Amaro, que há muitos que afirmam, categoricamente, que Eça "copiou" e poliu a obra de Zola La Faute de L'Abbé Mouret. Por outro lado, o bom leitor vai deparar-se com uma realidade diferente no ato leitura das duas obras, já dizia o nosso autor de O Primo Basílio "La Faute de l'Abbé Mouret é, no seu episódio central, o quadro alegórico da iniciação do primeiro homem e da primeira mulher no amor" ; já o "Crime do Padre Amaro" tinha no enredo uma "simples intriga de clérigos e de beatas, tramada e murmurada à sombra duma velha Sé de província portuguesa". 

Abaixo, há um trecho de autoria de Machado de Assis:

"O próprio Crime do padre Amaro é imitação do romance de Zola, La faute de l’abbé Mouret. Situação análoga; iguais tendências; diferença no meio; diferença no desenlance; idêntico estilo; algumas reminiscências, como no capítulo da missa, e outras; enfim, o mesmo título.”

“O Sr. Eça de Queirós não quer ser realista mitigado, mas intenso e completo; e daí vem o tom carregado das tintas, que nos assusta, para ele é simplesmente o tom próprio. Dado, porém, que a doutrina do Sr. Eça de Queirós fosse verdadeira, ainda assim cumpre não acumular tanto as cores, nem acentuar tanto as linhas; e quem o diz é o próprio chefe da escola, de quem li, há pouco, e não sem pasmo, que o perigo do movimento é haver quem suponha que o traço grosso é o traço exato.”

Machado de Assis, sob o pseudônimo Eleazar, O Cruzeiro, 16/4/1878



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